Política

Adeus, Guzzo. E o Brasil segue mais órfão de lucidez.

02 AGO 2025

A morte de José Roberto Guzzo me atravessa com a mesma dor que senti quando partiu Millôr Fernandes. Um vazio que não é apenas pessoal, é também coletivo, nacional. É o luto de quem sabe o que representa perder alguém que pensava com coragem, que escrevia com precisão, que observava o Brasil como quem realiza uma delicada cirurgia da alma política.

Guzzo era dos últimos. Um dos raros que permaneceram íntegros, lúcidos, sensatos, mesmo quando discordávamos, mesmo quando suas colunas desafiavam consensos e esbarravam em zonas desconfortáveis. Seu estilo era o da clareza implacável, da frase enxuta, do raciocínio que não se perdia em firulas. E, sobretudo, da honestidade intelectual, bem cada vez mais escasso em nosso tempo.

Sua morte não é só a perda de um jornalista. É a perda de uma referência. Num país em que o debate público muitas vezes se tornou um ringue de acusações cegas ou de análises passionais, Guzzo era um raro ponto de estabilidade: pensava, escrevia e nos obrigava a pensar.

Para mim, é uma dor que toca fundo. Millôr nos deixou em 2012, e desde então poucos nomes conseguiram ocupar espaços de lucidez com a mesma profundidade. Guzzo era um desses. Um farol. Um cirurgião da política que usava o bisturi das palavras com precisão milimétrica, e sem perder a alma.

O Brasil já era carente de bons talentos pensantes. Agora está ainda mais. Ficamos mais órfãos de sensatez, de crítica responsável, de coragem serena. Em tempos de gritos e superficialidades, Guzzo nos fazia lembrar que é possível ser firme e ao mesmo tempo sensível, ser direto sem ser raso, ser crítico sem ser destrutivo.

Descanse em paz, mestre Guzzo. O seu silêncio agora fará ainda mais falta do que já fazia a sua voz entre tantos ruídos. Que seu legado continue ecoando nas consciências que ainda resistem à mediocridade.

Autor(a): Eliana Lima



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