Cultura

‘Agora é tarde, Inês é morta’, de onde originou essa máxima?

25 MAR 2019

Foto: Jardim das Lágrimas - reza a lenda que aqui Inês foi morta é seu sangue manchou para sempre as pedras da fonte

Quem nunca ouviu a frase “Agora é tarde, Inês é morta”? Ou apenas “Inês é morta”? 

Então. Qual a origem? 

Pois bem. Remete aos longínquos anos de 1300.

Tudo começou quando D. Afonso IV, após a tentativa de casamento falhada do filho D. Pedro com a princesa D. Branca, por essa se mostrar doente. Eis que o rei escolhe outra pretendente para o filho: D. Constança Manoel, filha do fidalgo D. João Manoel, cronista e poeta, proprietário de vilas e castelos, descendente dos reis de Castela.

Mesmo contra a vontade do príncipe herdeiro, o casamento foi consumado por procuração, em 1936. E em 1340 ela chega à vila portuguesa de Évora, acompanhada de homens de armas e das suas aias, entre elas D. Inês de Castro.

D. Pedro, então, manteve-se afastado da esposa. E não demorou para se apaixonar pela bela Inês, moça de linhagem fidalga, filha bastarda de D. Pedro de Castro de Galiza e bisneta do rei D. Sancho IV de Castela. Assim, prima de D. Pedro. 

Amor recíproco. Pois. Iniciaram o romance proibido, que rapidamente se tornou público.

D. Constança tentou impedir o caso ao convidar Inês para  madrinha do filho que gerava. Assim, promoveria parentesco espiritual e tornaria a relação incestuosa aos olhos de Deus.

Mas D. Pedro não conseguiu se separar da amada. Nem ela.

Olhos perigosos

O romance era mal visto pelo povo e pelo rei e seus conselheiros, que temiam não só por espinhos diplomáticos, mas também pela ambição dos irmãos de D. Inês, Álvaro Peres de Castro e Fernando de Castro, que ficaram amigos de D. Pedro.

Os ‘cunhados’ já não escondiam as pretensões ao poder, e conseguiram que D. Pedro se declarasse pretendente ao trono de Leão e Castela, o que desagradou imensamente a D. Afonso IV, que queria Portugal neutro e independente.

Diante da situação, o rei mandou expulsar Inês da corte, em 1344. 

Ela se refugiou no Castelo de Albuquerque, perto da fronteira portuguesa, pertencente a D. Afonso Sanches, irmão bastardo de D. Afonso IV, o que o rei viu como mais uma ofensa.

E nem a distância afastou os dois amantes, que continuaram se correspondendo e se amando, secretamente.

A partida

Em 1354, D. Constança morre no parto do terceiro filho, o futuro rei D. Fernando. 

Sentindo-se liberto, D. Pedro levou D. Inês para as terras da Lourinhã, numa quinta em Moledo, nas proximidades da Serra d´el Rei, onde ele consumava caçar. 

Viveram ali momentos felizes. E onde tiveram três filhos, D. Afonso, D. João e D. Dinis. 

Presságio 

O povo, contudo, repudiava a relação, por considerar pecaminosa. A situação piorou com o surgimento de uma peste, que o povo atribuiu a um “mau-olhado” e apontou culpa a Inês. 

O reino, então próspero, começou a empobrecer. Os campos antes férteis foram abandonados com a fuga da população amedrontada.

Ida

Pedro, então, resolve partir com Inês para a Quinta do Canidelo, hoje Vila Nova de Gaia, do outro lado do Porto. Lá, doou-lhe o padroado da Igreja de S. André da Canidelo.  Em 1353, nasceu a primeira filha do casal, D. Beatriz.

Após alguns anos, eles se mudam para Coimbra, numa quinta próxima ao Mosteiro de Santa Clara, o que era mal visto pelo povo, que reprovava o amor adúltero tão junto do Convento de Santa Clara, onde a bondosa rainha D. Isabel de Aragão viveu e se tornou santa.

Ao mesmo tempo, D. Afonso temia a existência dos netos bastardos. Considerava mau prenúncio para a independência do país. 

Seus conselheiros Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, então, alertaram que os irmãos de Inês atentassem contra a vida do Infante D. Fernando, o legítimo herdeiro ao trono, caso D. Inês se tornasse rainha. Aconselharam, então, a morte da galega.

E assim foi feito. No dia 6 de janeiro de 1355 condenaram Inês à morte, num julgamento sumário no Castelo de Montemor-o-Velho. 

No dia seguinte, D. Afonso e os conselheiros seguiram para Coimbra para dar um basta ao romance.

Sombrios 

Reza a lenda que naquela manhã, quando D. Pedro se preparava para ir caçar, um velho cão negro de aspeto feroz se afastou da matilha e, enfurecido do nada, correu em direção para atacar Inês. 

Para proteger a amada, o infante degolou a fera em um único golpe, que caiu aos pés de Inês, manchando o seu  vestido de sangue. 

Inês e Pedro ficaram assustados. Temiam que fosse um prenúncio. Mas, ele partiu.

E eis que os conselheiros do rei entram no paço dispostos a matar a galega.

Apesar das súplicas e do choro dos seus filhos, os conselheiros degolam-na.

Cenas dos próximos capítulos

Então, amanhã eu conto o que se passou após a trágica morte de Inês de Castro, inclusive sobre os lugares que visitei, desde o jardim onde eles se encontravam, e a fúria de D. Pedro, que no futuro mandou matar os assassinos da sua amada, e ele mesmo arrancou-lhes o coração. 

Reza a lenda que comeu o coração de um deles aos olhos dos algozes que ainda agonizavam.

Também, a inspiração de Luís de Camões para o Canto III.

Mais fotos sobre os lugares que foram palco desse amor vocês podem conferir no Facebook e Instagram @aslisboetas.

Autor(a): Eliana Lima



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