Polícia

Do procurador Vladimir Aras, sobre o assassinato do seu pai: A Justiça “foi morosa e generosa com os homicidas”. Depois de 27 anos, acusado vai a júri

08 AGO 2023

Foto: Foto do pai publicada por Vladimir Aras

No noite do dia 10 de outubro de 1996, o auditor fiscal José Raimundo Aras foi morto com seis tiros à queima roupa em sua casa na cidade de Petrolina (PE), pelo pistoleiro Carlos Robério Vieira Pereira, já condenado a 18 anos de prisão.


Aras integrava o grupo que investigava a “Máfia do Açúcar”, empresários e usineiros que sonegavam impostos na venda da cana. 


Somente agora, a poucos meses de completar 27 anos do crime, o terceiro envolvido no assassinato do auditor vai ao banco dos réus, em júri popular nesta quarta-feira (9), no Plenário do Tribunal do Júri do Fórum Dr. Manoel Souza Filho, em Petrolina.


O Ministério Público de Pernambuco identificou como mandantes do crime Francisco de Assis Lima “Barateiro” (condenado a 17 anos), Carlos Alberto da Silva Campos (absolvido) e Alcides Alves Bezerra, que agora será julgado.


Barateiro, Carlos Alberto e Alcides são apontados como integrantes do esquema que ficou conhecido como “Máfia do Açúcar”, onde empresários do setor atacadista compravam açúcar com notas frias, na divisa da Bahia com Pernambuco. Sonegavam ICMS na venda do produto na região. 


José Raimundo Aras, então auditor fiscal da Secretaria da Fazenda da Bahia, atuou para desbaratar o esquema, como lembra o Sindsefaz-BA, que marcará presença no julgamento por meio dos diretores Cláudio Meirelles e Joaquim Amaral.


José Raimundo Aras era tio do atual procurador-geral da República, Augusto Aras, e pai do procurador da República Vladimir Aras.


No dia 10 de outubro de 2021, Vladimir Aras escreveu no Twitter:


- Hoje faz 25 anos que meu pai se foi. Nesta foto, tirada em 1974, estamos eu, ele, minha irmã e Lu. Foi por volta das 23 horas que sua vida se encerrou. Ele, que era sociólogo, tinha 54 anos. Eu fizera 25 anos em maio e era promotor na Bahia. Hoje aos 50 guardo muitas saudades.


Eu estava em Feira de Santana, quando o telefone tocou.– Seu pai sofreu “um acidente”, disseram. Peguei a estrada para Petrolina, onde ele morava. No meio do caminho, recebi a notícia de que já era tarde. José Raimundo Aras era auditor fiscal na BA e trabalhava na divisa com PE.


Como auditor, ele tinha começado a apurar ilícitos da “Máfia do Açúcar”, uma quadrilha de atacadistas sonegadores de ICMS e funcionários públicos corruptos. Quem se opunha ao esquema era intimidado. Meu pai foi morto, num crime de mando em 09/10/1996. 


A Polícia logo descobriu os autores do homicídio. A Justiça é que nunca funcionou adequadamente. Foi morosa e generosa com os homicidas. Ressalvo, em nome de todos os que se esforçaram, o trabalho de Júlio César Lira, que falou pela vítima nos júris realizados, mas nunca consumados.


É que 25 anos depois os recursos ainda se arrastam nos tribunais, ora no STF, no STJ ou no TJPE. Os 4 acusados é que tiveram sorte. Dois condenados; dois absolvidos. Tiveram sorte, tiveram tempo e gozaram do devido e do *indevido* processo legal. Nós, os filhos, ainda esperamos.


Minha mãe morreu em 2010 e nunca viu a Justiça. Meus filhos nunca conheceram o avô. Muita coisa se acabou, mas essa história de um quarto de século ainda não.


García Lorca era o poeta de que meu pai mais gostava: “— Que eu possa subir ao menos até às altas varandas. Que eu possa subir! que o possa até às verdes varandas.”


Contei uma parte dessa história de injustiça neste texto de 2012: “Um júri”.




Autor(a): BZN



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