08 MAI 2025
Natural de Acari, no Seridó potiguar, Dom Eugênio de Araújo Sales é uma das figuras mais influentes da história da Igreja Católica no Brasil, e também o primeiro cardeal norte-rio-grandense a participar de um conclave.
Com uma trajetória marcada por firmeza doutrinária, ação pastoral e defesa dos direitos humanos durante o regime militar, Dom Eugênio deixou sua marca também no mais reservado dos rituais da Igreja: a eleição de um papa.
Criado cardeal em 1969 pelo Papa Paulo VI, Dom Eugênio foi um dos eleitores no conclave de outubro de 1978, que escolheu o cardeal polonês Karol Wojtyła como Papa João Paulo II. Na época, era arcebispo do Rio de Janeiro, cargo que assumiu em 1971, depois de comandar a Arquidiocese de Natal e ser o primeiro administrador apostólico de Mossoró.
Conhecido por seu conservadorismo teológico e por manter pontes com o Vaticano, Dom Eugênio também foi respeitado por sua atuação em defesa dos perseguidos políticos. Durante a ditadura militar, abrigou dezenas de opositores do regime, oferecendo proteção e ajudando em negociações discretas para garantir suas vidas.
Sua participação no conclave de 1978 foi discreta, como exige o segredo do evento, mas seu prestígio no Colégio Cardinalício era notável. Entre os cardeais latino-americanos, era uma das vozes mais ouvidas.
Dom Eugênio faleceu em 2012, aos 91 anos, como o mais longevo dos cardeais brasileiros de sua geração. Seu túmulo está na Catedral Metropolitana do Rio, cidade onde foi arcebispo por mais de 30 anos.
Os brasileiros nos conclaves
O Brasil já contou com a presença de cardeais eleitores em diversos conclaves recentes, o que sinaliza sua importância no cenário católico global:
- 1978 – João Paulo I e João Paulo II:
• Dom Aloísio Lorscheider, defensor da Teologia da Libertação.
• Dom Paulo Evaristo Arns, símbolo da resistência à ditadura militar.
- 2005 – Bento XVI:
• Dom Cláudio Hummes, que ficou ao lado de Francisco na escolha do nome.
• Dom Eusébio Scheid, arcebispo do Rio
• Dom Geraldo Majella Agnelo, da CNBB.
- 2013 – Francisco:
• Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo e cotado como um dos favoritos.
• Dom João Braz de Aviz, já então em alta na Cúria Romana.
• Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida.
• Dom Cláudio Hummes, cuja frase “não se esqueça dos pobres” inspirou o nome do Papa Francisco.
Embora nenhum brasileiro tenha chegado ao trono de Pedro, a influência dos seus cardeais é reconhecida, especialmente por sua atuação em temas como justiça social, missão pastoral e renovação da Igreja.
Com a eleição do americano Papa Leão XIV, a discussão sobre o peso dos cardeais fora da Europa ganha novo fôlego, e a expectativa de um papa brasileiro, mesmo distante, continua viva.
Autor(a): BZN