06 FEV 2025
Muitos são os vídeos que circulam mostrando alagamento na faixa de areia da engorda artificial da Praia de Ponta Negra, em Natal. Ora, acontece naturalmente, idem pelo avanço do mar. Basta observar na época do ano em que o nível do mar aumenta devido aos ciclos naturais da lua e de outros fatores astronômicos, por exemplo.
Os frenquantadores da Praia da Pipa, em Tibau do Sul, veem essas transformações constantemente, em que o mar avança sobre a areia e deixa uma faixa que separa o que fica parecendo uma lagoa e o mar. Tanto que as barracas colocam mesas e cadeiras na ilhota que transforma-se.
Pois bem
A crescente pressão da urbanização sobre as áreas costeiras no Brasil e no mundo tem gerado sérios desafios à preservação das praias. As obras de engorda artificial, como a de Ponta Negra, surgem como uma resposta emergencial para enfrentar a perda de faixas de areia provocada por fenômenos naturais e pela ocupação humana. A estratégia visa repor areia e alargar a praia como uma forma de proteção contra o avanço do mar e as tempestades.
Na matéria da revista Casa Vogue edição de novembro de 2022, o oceanógrago Eduardo Siegle, professor da USP, explica que o aumento das tempestades e do nível do mar, aliados à ocupação humana, resultam em um déficit sedimentar nas praias. A crescente ocupação urbana nas zonas costeiras tem impedido que as praias se ajustem naturalmente, criando uma situação de “confinamento da costa”. Nesse cenário, a engorda artificial surge como uma medida paliativa para evitar danos à infraestrutura urbana.
Esse tipo de projeto não é uma novidade. A Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, já passou por uma obra similar nos anos 1970, quando a faixa de areia foi ampliada de 55 para 90 metros para acomodar o aumento do fluxo de turistas e a necessidade de proteger a área de grandes ressacas. No Balneário Camboriú, no litoral catarinense, foram usados 2,2 milhões de metros cúbicos de areia para alargar a Praia Central, com areia extraída a 15 km de distância.
Em algumas cidades da Europa, como na Holanda, soluções de engorda de praia têm sido adotadas com sucesso. O Sand Motor, por exemplo, é uma megainstalação na região de Delfland, onde 21,5 milhões de metros cúbicos de areia foram usados para criar uma península que serve como proteção contra inundações, com um custo de 70 milhões de euros.
Evidentemente que essas obras têm seus impactos ambientais. O biólogo Ronaldo Christofoletti, da Universidade Federal de São Paulo, também na Vogue, alerta para os danos causados pela retirada de areia e pela deposição do material nas praias, afetando organismos marinhos e a fauna local. Ele enfatiza a importância de projetos bem planejados, que busquem, além de repor a areia, restaurar a vegetação de restinga e evitar a ocupação humana em áreas recém-reformadas, como ciclovias e quiosques.
Exemplos de restauração natural, como o Projeto de Recuperação da Costa Brasileira no Rio de Janeiro, que tem transformado áreas de areia em restingas, demonstram a importância de soluções baseadas na natureza. Essa vegetação não só protege as dunas, mas também ameniza o impacto das ressacas e ventanias, funcionando como um amortecedor natural contra os efeitos das mudanças climáticas.
Apesar de ser uma solução temporária, a engorda artificial das praias precisa ser parte de um planejamento de longo prazo. O nível do mar tem subido, e as previsões do IPCC apontam para uma elevação de mais de 1 metro até 2100. Para a especialista Suely Araújo, do Observatório do Clima, os governos precisam adotar medidas mais eficazes para adaptar as cidades costeiras, com foco na recuperação de ecossistemas naturais como mangues, e evitar a ocupação de áreas vulneráveis.
A adaptação às mudanças climáticas e a gestão das costas do Brasil exigem um esforço coletivo e sustentável, buscando alternativas que harmonizem o desenvolvimento urbano com a preservação ambiental. Não o contra de desocupados com benesses públicas. Se é que entendem-me.
Autor(a): BZN