02 ABR 2021
Médico experiente, intensivista e plantonista da UTI Geral do Hospital Walfredo Gurgel, do qual foi diretor, Sebastião Paulino expõe um tanto da sua indignação diante da celeuma, por profissionais da saúde, no trato de doentes com covid-19 quando chegam à UTI. “Não participo de conflitos”, diz.
Eis seu desabafo:
- Nobres colegas, amigos e amigas, meu respeito!
A profissão médica está alicerçada em duas premissas fundamentais, cujo espírito humanitário se sobrepõe a qualquer regramento.
São elas:
Preservar a vida e atenuar o sofrimento humano.
O ato de preservar a vida está intrinsecamente atrelado aos desígnios de Deus.
Em minha formação acadêmica tive um professor que costumava repetir em suas aulas a assertiva seguinte: o médico trata; Deus cura.
Esta é uma verdade que conduzo comigo diuturnamente no exercício do meu ofício.
Atenuar o sofrimento humano envolve imperiosa preocupação com nossos semelhantes. É aqui que sentimos a presença forte dos familiares e demais entes queridos.
Dentro de cada criatura humana existe um coração que impulsiona sangue para o corpo inteiro, levando com ele a esperança, a expectativa do retorno, a fé na cura e o desejo incomensurável de que tudo volte ao normal.
É impossível não sentir a dor de uma família no instante em que aquela criatura humana já não respira mais.
Dói. Dói muito saber que uma vida foi interrompida, levando consigo inúmeros desejos e planos.
Muito difícil não chorar com aqueles que ficam.
Não posso abandonar a crença de que a vida continua, embora em outra dimensão.
O que mais me atordoa em meio às adversidades do dia a dia, em plena pandemia, é o conflito de ideias protagonizado pelo conhecimento de tantos medalhões perfilados em busca de notoriedade, dividindo uma classe tão nobre, justamente em um instante em que precisamos tanto de união.
A soberba e a vaidade de grupos antagônicos devidamente representados por profissionais renomados só produzem insegurança em meio à sociedase civil bombardeada por informações conflitantes e perseguida pelo medo.
Ainda não se deram conta da imperiosa necessidade que o mundo exibe de manter acesa a chama da esperança por dias melhores.
Estamos enfrentando um embate de índole e deslinde atroz. Precisamos aniquilar o inimigo.
Nossa frente de batalha não pode ruir.
O mundo clama por união.
Separados e em busca de notoriedade gratuita, seremos fragorosamente vencidos.
Estamos perdendo nossos guerreiros em linha de frente e inúmeros entes queridos.
Jamais, em tempo algum, mendigamos tanto a supremacia da união.
União e humildade.
Somos uma família.
É chegado o momento de organizarmos a nossa linha de frente e modo de atuação, enquanto ainda temos força.
É possível que a sociedade civil organizada nem saiba ainda: a jornada tem sido extenuante e o nosso limite está sendo tangenciado.
Quem cuida também pede socorro.
Deus Existe. Ele é Único.
Sebastião Paulino da Costa.
Médico e Advogado.
Natal, 02 de abril de 2021. Sexta-feira Santa.
Autor(a): Eliana Lima