27 ABR 2020
Com o isolamento social, aumentaram os casos de violência doméstica contra as mulheres no RN, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (Sesed).
Esse problema, aliás, é mundial.
Tal realidade em solo potiguar foi tema de mais uma reunião da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus da Assembleia Legislativa, hoje (27).
Coordenadora do Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência do Ministério Público Estadual, a promotora Érica Canuto relatou:
- Isso foi registrado no mundo inteiro e aqui no RN não foi diferente. Dados da Secretaria de Segurança refletem que há aumento de registros de violência, entre fevereiro e março desse ano, de 22% na região metropolitana de Natal. Em todo o RN foi de 8,8%. Já as medidas restritivas aumentaram o seu uso em 18,5%”.
Disse ainda o RN registrou um aumento de 300% no número de feminicídios se comparado o mês de março deste ano com o mesmo período de 2019. No terceiro mês de 2020 foram quatro mulheres assassinadas, enquanto em 2019 se registrou uma vítima desse tipo de crime no mesmo espaço de tempo.
A promotora cobrou ações de combate:
- Pelo número de violência no país, o quinto do mundo que mais mata mulheres, temos o dever de nos anteciparmos em políticas públicas. Não podemos esperar a morte da mulher, tem que se antecipar para evitar que ela aconteça. O Estado precisa se aparelhar, precisa ter Casa Abrigo Estadual, as mulheres do interior não têm para onde recorrer, para onde ir e se refugiar.
Sugeriu colocar o tema como uma das pautas principais do Estado. O RN, segundo ela, possui o maior índice de violência psicológica contra mulheres e 87% dos casos registrados ocorrem na frente de crianças. “É um círculo vicioso, as crianças aprendem com a repetição. Elas estão vendo o comportamento”.
Explicou que o isolamento social se transformou em um fator de risco para as mulheres porque a “casa é um lugar perigoso” para elas. “É o uso do álcool, das drogas, armas, doenças, são sempre fatores de risco. Tudo isso, não causa a violência, mas aumenta a violência de gênero contra a mulher”.
Presidente da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus, o deputado Kelps Lima (SDD) cobrou do Governo do Estado a implantação de políticas públicas voltadas para o tema. “Existem protocolos para isso que não foram adotados pela atual gestão nem nenhuma no RN até agora. Qual avanço para o uso da tecnologia a favor das mulheres foi implantado? O homem que agride uma mulher deveria usar tornozeleira eletrônica, temos que constranger ele, e não a mulher. Precisamos sair do discurso”.
O deputado Francisco do PT lamentou:
- Infelizmente essa questão é lamentavelmente uma das faces mais cruéis e covardes do machismo, que teima em imperar na nossa sociedade, inclusive através de gestos de pessoas e autoridades.
Representante da bancada feminina na AL, a deputada Isolda Dantas (PT) alertou que “há uma subnotificação enorme” de casos de violência contra a mulher. “A violência pelos noticiários é visível, nem precisa de dados. A casa, como disse a promotora, é um lugar muito perigoso para as mulheres. A violência é a expressão mais dura do machismo”, disse. A petista sugeriu transformar a delegacia virtual para que possa também receber denúncia de violência contra a mulher.
“Não bastasse o medo e o temor do coronavírus, ainda tem que ficar em casa com a pessoa que a agride constantemente”, disse o Sandro Pimentel (PSOL).
Já o deputado Tomba Farias (PSDB) disse que muitos fatores podem contribuir para o aumento da violência doméstica durante o isolamento, como o consumo de álcool em excesso e até mesmo o medo em relação ao futuro, diante do alto número de desempregados do país.
Autor(a): Eliana Lima
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