23 JUN 2022
Há alguns bons anos, eu estava no lobby do hotel em eu que estava hospedada na cidade paulista de Ribeirão Preto, e eis que entra uma mulher elegante e ao mesmo tempo descolada, com um chamativo par de óculos de sol.
Chamou minha atenção e sabia que a conhecia de algum lugar. Não demorei muito para identificar: era Danuza Leão, a mulher que fez história no society carioca, conquistou Paris e distribuía sua inteligência e seus conhecimentos, com tom de ironia, em deliciosos textos, em jornais, revistas e livros. Eu, sua fiel leitora. Tive vontade de abordá-la para uma rápida conversa, mas sabia que ela não era das mais simpáticas e não quis arriscar um fora.
Sua história fascinava-me. Quando decidi deixar de escrever coluna social-política, minha inspiração foi Danuza. Lembro quando ela disse que sua maior alegria foi ser convidada para assinar uma coluna. E sua outra grande alegria foi quando decidiu deixar. E assim eu me encorajei e fiz o que deveria, mesmo com bom salário e muito prestígio.
Mas, por que toda essa história minha relembrada?
Para uma noção do quanto estou triste com sua partida. Ela fez parte da minha vida. E de tantas outras vidas, que se deleitavam nas vibração da sua composição de letras polêmicas, doces e incentivadoras.
E ela partiu. Perto de completar 89 anos de vida (26 de julho), Danuza morreu no fim da noite desta quarta-feira (22).
Jornalista, escritora badalada e referência em estilo, Danuza Leão primeiro foi modelo, do alto da sua beleza, nos anos 1950, sendo a primeira brasileira a desfilar no exterior.
Nos últimos dias, viveu um difícil périplo entrando e saindo do hospital. Até que não resistiu a um quadro de insuficiência respiratória. Estava internada na Clínica São Vicente, no Rio. A informação foi confirmada pela família.
Natural do município de Itaguaçu, no Espírito Santo, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Com 17 anos, em Paris, França, procurou o estilista Jacques Fath, que lhe proporcionou seu primeiro desfile. Ganhou pouco dinheiro, mas faturou fama no Brasil, principalmente após ser capa da então concorrida revista Manchete, com a chamada “Danuza conquista Paris”.
Danadinha que só ela, passou por três casamentos: o jornalista Samuel Weiner, fundador do extinto jornal Última Hora; o cronista Antônio Maria, e o também jornalista Renato Machado.
Tinha escancarada paixão por cigarros, gatos e moda.
O que não tinha por teto. Mudou-se de apartamentos 36 vezes. Até que, em 2011, resolveu se desfazer da maioria das peças de luxo, viver com menos e ter mais momentos livres. Na mala, apenas dois casacos de pele, três vestidos de festas, dois ternos pretos (um Chanel e um Armani), 24 calças jeans, uma dúzia de casacos de cashmere e outra de camisetas. Optou por apenas seis peças de louça e talheres. Dizia que não precisava de mais para viver bem. Abriu mão de carro. Circular a pé ou de táxi.
E assim viveu a vanguarda Danuza.
Segue em paz, maravilhosa!
Autor(a): Eliana Lima