Política

Morre o jornalista João Batista Machado, o querido Machadinho

26 MAI 2021

A informação é do blog de Heitor Gregório. João Batista Machado, carinhosamente chamado de Machadinho pelos amigos, partiu na manhã de hoje (26), no Hospital do Coração de Natal, onde estava internado. Lutava contra um câncer de intestino e contraiu covid-19. Estava com 77 anos.

Membro da Academia norte-rio-grandense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico do Estado, atuou em vários veículos de comunicação do RN e do Brasil.

Transcrevo a entrevista com Machadinho publicada no blog de Gustavo Sobral:

“Eu lia a revista O Cruzeiro em Assú, cidade onde nasci, e me entusiasmava com a parte de política. Esperava ansiosamente a cada semana a edição que chegava aos sábados ao Café de Seu Victor, onde era vendida. Me entusiasmavam os artigos de Castelinho, o Carlos Castelo Branco, comentarista de política, era o que despertava mais a minha atenção. E desta forma eu sonhava em ser jornalista e escrever sobre política.

Assim, acredito, nasceu meu interesse pelo jornalismo. Não imaginava toda esta aventura que viveria pelas redações dos jornais Tribuna do Norte, onde comecei, e depois Diário de Natal, para onde fui convidado para ser repórter de política e assim começa a minha história no jornalismo do Rio Grande do Norte, antes e depois da offset.

Costumo a afirmar que fiz do jornalismo um sacerdócio, não comercializei minha consciência nem sujei as minhas mãos. Estive dos dois lados da profissão, porque além de repórter, também exerci a função de assessor de imprensa por décadas, portanto, fui estilingue e vidraça. Além de repórter, correspondente de O Globo no Rio Grande do Norte, por cinco anos, e colaborei com outros veículos como RN Econômico de Cadernos do Rio Grande do Norte e atuei como redator publicitário na agência Dumbo.

Assessor de imprensa, fui de quatro governadores do Estado: Tarcisio Maia, José Agripino, por dois mandatos, Radir Pereira e Vivaldo Costa, e do prefeito José Agripino na Prefeitura de Natal. Além disso servi como assessor de imprensa da Federação do Comercio do Rio Grande do Norte, SESC/SENAC e Tribunal de Contas do Estado.

Embora não tenha sido a primeira opção, me realizei no jornalismo. Pensava em cursar Direito mas ao mesmo tempo que ingressei na Tribuna meu destino começou a se voltar para o jornalismo, posteriormente, conclui o curso de Comunicação Social pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza.

O jornalismo me deu tudo o que tenho e o que mais prezo: a credibilidade. E assim também me fiz pesquisador e escritor. Publiquei livros sobre a história do Rio Grade do Norte, ingressei nesta condição no Instituto Histórico e Geográfico do Estado e na Academia Norte-rio-grandense de Letras.

Meu pai resolveu me mandar para estudar em Natal. Capital do Estado, havia mais chance de eu encontrar meu caminho na vida. E assim, vim para Natal. Me alojei na Casa do Estudante e conclui o ginasial e o clássico até que um dia o acaso colocou o jornalismo diante de mim.

Saindo do colégio resolvi passar no Palácio Potengi, sede do governo do Estado, onde geralmente encontrava pessoas de Açu e foi quando encontrei o jornalista Walter Gomes, que eu conhecia, me perguntado o que eu fazia Natal. Expliquei que viera estudar e ele perguntou se eu não gostaria de fazer um teste para ser jornalista.

Concordei e na manhã seguinte, como combinado, estava na Tribuna do Norte e para minha surpresa fui logo por ele apresentado ao jornalista Francisco Macedo e informado de que seria o novo foca. E eu que nem sabia o que significava isso. Macedo me explicou, significa novato. Me explicou rapidamente como se fazia uma notícia e me mandou naquele mesmo momento entrevistar o teatrólogo Sandoval Wanderley que ensaiava a peça Taberna Azul no Teatro Alberto Maranhão.

Entrevistei-o e redigi a notícia que no dia seguinte estava estampada na Tribuna do Norte e desde então não parei mais. Na redação da Tribuna encontrei Walter Gomes na função de editor geral, e na reportagem os jornalistas Cassiano Arruda, Abimael Morais, Luiz Sérgio Galvão, Gutemberg Mota, Ana Maria Cocentino Hamilton de Sá Dantas, Helio Cavalcanti, Albimar Furtado, entre outros.

E ainda havia um time de colaboradores: Berilo Wanderley, Luís Carlos Guimarães, Woden Madruga, Newton Navarro, Sanderson Negreiros, Rômulo Wanderley, Nei Leandro de Castro e Paulo de Tarso Correia de Melo e Moacyr Cirne dividindo uma coluna sobre cinema. O colunista social era Paulo Franssinetti e o esportivo, João Machado.

A primeira matéria assinada que publiquei intitulava-se “O pequeno mundo de Vicente” sobre um retirante e sua família que viviam numa Kombi estacionada na Ribeira. A Tribuna era um jornal padrão Jornal do Brasil que incorporara as inovações do jornal carioca trazidas pelo jornalista Walter Gomes. A tônica impressa por Walter era de trazer na primeira página as notícias locais abandonando a prática corriqueira de imprimir artigos com fotos do noticiário nacional e internacional.

Walter era partidário de uma máxima de Chaplin: a vida é o tema local. Diferente do Diário de Natal que na sua primeira página estampava as notícias policiais o que o fazia um jornal de grande vendagem e popular. Sensacionalista, comandava-o o jornalista Luiz Maria Alves.

Passei pela reportagem policial, onde todos começávamos, era a prática, depois cheguei à editoria de assuntos gerais e em seguida à política. Era o tempo da campanha para o governo estadual, disputavam os candidatos monsenhor Walfredo Gurgel e Dinarte Mariz aquela eleição de 1965. Fiquei responsável pela cobertura da campanha do monsenhor. Diariamente, eu apurava o roteiro da campanha e as notícias eram publicadas com destaque na primeira página.

Na condição de repórter da Tribuna, comecei a acompanhar a movimentação política e a ganhar confiança. Fator extremamente necessário ao exercício do jornalismo político. Assim nascia o repórter político que em mim havia.

Quando da eleição do monsenhor Walfredo que levou aquele pleito, eu deixava a redação da Tribuna. Recebera uma oferta para trabalhar no Diário e fui para pauta de assuntos gerais. Mas foi por pouco tempo, logo fui destacado para cobrir o Palácio Potengi, ou seja, a agenda do governador empossado, e a movimentação da Assembleia Legislativa. E comecei a assinar matérias e reportagens sobre política.

Por sugestão do chefe de reportagem, o jornalista Sanderson Negreiros, comecei a entrevistar personalidades que marcaram a vida pública do Estado. Não foi uma ideia de acatei de pronto, o dia-a-dia da profissão já me exigia bastante, além da cobertura das duas casas, o governo e a assembleia, era minha obrigação cumprir três ou quatro pautas diárias e compor uma página inteira para o jornal de domingo.

O Diário circulava aos domingos com o título de O Poti. Mas fui em frente, este material depois eu reuniria em primeiro livro, De 35 ao AI5. A redação do Diário já adquirira antes de mim, outros jornalistas e colaboradores da Tribuna.

O novo Diário ganhou instalações modernas na av. Deodoro no ano de 1970 e o moderno sistema de impressão anunciado no dia da inauguração na página do jornal, edição de 13 de junho. O editorial saiu da pena de Sanderson Negreiros e elogio do presidente dos Diários Associados, Paulo Cabral, que viera para a inauguração: podia ser até publicado no New York Times.

Assim enxugou a folha de pagamento e economizou papel (vivíamos tempo de crise de papel). O Poti se fixou como um jornal de grandes reportagens sobre a cidade e o Diário um vespertino sensacionalista, que explorava o noticiário policial. Foi um sucesso de vendas e de críticas que Alves respondia com uma frase do ex-presidente do Chile Eduardo Frey: o povo gosta do trágico e do grotesco.

 

O sistema ofsset sustentou a mudança e permitiu as grandes tiragens, o jornal ganhou praça em todo o Rio Grande do Norte. As novas instalações na Av. Deodoro, no bairro de Petrópolis, em nada pareciam com a precária da av. Rio Branco, na Ribeira. Não havia luxo, é verdade. A redação dividia espaço com a impressão sem a confusão do antigo prédio. As tiragens cresceram e o leitor com o offset poderia ler o jornal sem sujar as mãos”.

Autor(a): Eliana Lima



últimas notícias