Política

Não sofismei, Natália!

30 JAN 2024

Foto: Além da foto de uso lamentável da imagem de uma senhora que continua sem vida digna, a chamada “alerta textão”, como se fosse demais

Para tentar explicar seu apoio à inconstitucional invasão de propriedade privada, a deputada Natália Bonavides (PT) achou viável colocar a lamentável imagem de uma senhora de 108 anos que ainda mora em um assentamento.


Por que ainda não deu condições de vida com dignidade constitucional à senhora com semblante tão sofrido? Morar em ocupação, sem o alcance do teto sonhado, com infraestrutura mínima para vida digna é exemplo de quê?


Natália não informa que as pessoas que ocuparam a propriedade privada estão sem teto porque aguardam as casas prometidas do programa habitacional “Pró Moradia”, executado pelo Governo do Estado, que prevê a construção de 90 moradias em um terreno doado pelo Município de Natal, enquanto isso as famílias estavam temporariamente abrigadas em um espaço custeado pela prefeitura até a conclusão das casas.


Mas, porém, todavia, mesmo após quase 4 anos do acordado, o governo estadual não iniciou a construção das casas, e o galpão onde as famílias estavam alojadas foi se deteriorando e se transformando em iminente risco para todos.


Natália tenta desviar o foco atacando adversários políticos, enquanto que a política que ecoa conquistas de benefícios para a população carente é a própria. Mas as mesmas famílias continuam vivendo de migalhas. E sem a sonhada dignidade.


Não sofismei, Natália!


A justificativa de Natália nas redes sociais:


- Sempre que a direita tenta me constranger com as pautas que defendo, revisito esse abraço em Dona Silvéria. A conheci em 2020, quando conseguimos prorrogar a Lei Despejo Zero. 108 anos e vivendo em uma ocupação. Naquele dia, deu muita vontade de chorar. Mesmo sendo um momento de alegria. Lembro também da frase de Padre Júlio Lancelotti: “Quando você está do lado dos indesejáveis, você é indesejável também”.


Hoje, com a notícia da realocação das famílias da Ocupação Emmanuel Bezerra para um imóvel abandonado há anos, políticos e “técnicos” correram para suas redes e se posicionaram com notas cheias de repúdio. Parecia até que não estavam falando de pessoas. Famílias, mulheres, homens, crianças… Trabalhadores. Mas, assim como as pessoas não somem com uma canetada que ordena uma reintegração de posse, as pessoas também não somem depois de notas de repúdio.


Não, não tenho constrangimento em defender políticas públicas para garantir moradia. Constrangimento eu teria se defendesse uma gestão que distribuiu remédio ineficaz na pandemia e que pode ter causado a morte de muita gente. Constrangimento eu teria se eu fosse quem, há 5 minutos, defendia uma gestão que sorteia vagas em creches, mas agora oportunamente tenta se afastar. Constrangimento eu teria se defendesse tortura e torturador. Ou se tivesse ficado ao lado de quem debochou de pessoas que morreram com falta de ar na pandemia. Constrangimento eu teria se impedisse trabalhadores de conquistarem seu ganha pão, como tem acontecido reiteradamente nas praias urbanas. Ou se não defendesse o direito à moradia de mulheres, crianças, idosos e trabalhadores que passaram 3 anos em um galpão insalubre.


“Na eleição lembraremos, Natália”. Sim, lembraremos e eu quero que você lembre. Quero que você lembre da necessidade de políticas públicas de moradia, saúde, assistência social. Quero que você lembre que a ausência dessas políticas sequer é digna de nota de repúdio para esse pessoal que resolveu se indignar com a realocação das famílias do Emanoel Bezerra. Quero que você lembre que os autores de muitas dessas notas de repúdio são os responsáveis por vermos Natal ter ficado mais desigual. 

Autor(a): BZN



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