25 MAR 2024
Nunca antes na história do Brasil houve tanta seletividade de informações e questionamentos. Principalmente na imprensa. No STF, então. No Congresso nem se fala. Apesar de mudanças intensas, ainda persiste à velha prática de oposição comprada e situação alugada.
Mas isso é outra coisa. O incrível da vez foi o acesso que o jornal New York Times teve do circuito interno de segurança da Embaixada da Hungria no Brasil para uma reportagem em que mostra a chegada de Jair Bolsonaro no dia 12 de fevereiro e saída provável no dia 14.
Com declarado perfil de esquerda, o jornal norte-americano começa o texto informando que a PF confiscou o passaporte do ex-presidente e prendeu ex-auxiliares por acusações de planejamento de “golpe depois que Bolsonaro perdeu a eleição presidencial de 2022”.
Diz o veículo: “acompanhado por dois seguranças e servido pelo embaixador húngaro e por funcionários. Alvo de várias investigações criminais, Bolsonaro não pode ser detido numa embaixada estrangeira que o acolha, porque estas estão legalmente fora dos limites das autoridades nacionais”.
Continua que a cena “sugere que o ex-presidente estava a tentar aproveitar a sua amizade com um líder de extrema-direita, o primeiro-ministro Viktor Orban da Hungria, para tentar fugir ao sistema judicial brasileiro, uma vez que enfrenta investigações criminais no seu país”.
Segundo o NYT, além da análise das imagens de quatro câmaras da embaixada por três dias, também verificou “imagens de satélite que mostravam o carro em que Bolsonaro chegou estacionado na entrada da embaixada em 13 de fevereiro”. Fala que um funcionário da embaixada, “sob condição de anonimato” informou que houve tratativas em “assuntos internos, confirmou o plano de receber Bolsonaro”.
Diz que após a publicação da matéria, Bolsonaro confirmou ao Metrópoles: "Não vou negar que estive na embaixada. Tenho um círculo de amigos com alguns líderes mundiais. Eles estão preocupados”. Já o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, disse em comunicado que o ex-presidente ficou na embaixada para discutir política com diplomatas húngaros. "Quaisquer outras interpretações", disse ele, "são claramente obras de ficção. Na prática, apenas mais uma notícia falsa".
O NY afirma que a “embaixada húngara não respondeu a um pedido de comentário”.
O jornal também insinua a relação estreita entre, Bolsonaro e Orban, rotulando-os de “íderes de extrema-direita em nações democráticas”. Soma a eles o presidente argentino Javier Milei.
Destaca o NYT que Bolsonaro participou de “conspirações para vender jóias que recebeu como presentes do Estado enquanto era presidente” e falsificou “seus registos de vacinação contra a Covid-19 para poder viajar para os Estados Unidos”.
Expõe o embaixador húngaro Miklós Halmai. Afirma que os funcionários brasileiros que estavam de folga devido ao Carnaval foram informados que poderiam ficar em casa durante o resto da semana.
Lá vem
Neste momento em que os EUA vão decidir se extraditam o jornalista brasileiro Allan dos Santos, a reportagem traz seu nome à importância como um dos “apoiadores mais proeminentes” de Bolsonaro, “especialista de extrema-direita” que “conseguiu evitar a prisão no Brasil sob a acusação de ter ameaçado juízes federais, uma vez que procurou asilo político nos Estados Unidos”.
E finaliza o texto: Duas semanas após a saída de Bolsonaro da embaixada - não se sabe por que razão saiu - realizou o comício planeado em São Paulo. Observadores independentes estimaram que 185.000 apoiantes compareceram. No comício, Bolsonaro repetiu a sua defesa de que estava a ser vítima de perseguição política.
Ele e os seus advogados argumentaram que o Supremo Tribunal do Brasil abusou do seu poder, interferiu nas eleições de 2022 e está agora a tentar prendê-lo e aos seus aliados. Eles apontaram recentemente para gravações de um ex-assessor de Bolsonaro, cujas confissões se tornaram fundamentais para as investigações, alegando que os investigadores têm uma narrativa predeterminada de que Bolsonaro é culpado”.
Autor(a): BZN