24 JUN 2023
A pesquisadora Andrielle Cristina Moura Mendes Guilherme, do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEM/UFRN), foi a ganhadora do Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela (2023), na categoria Tese. A premiação, concedida anualmente pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, reconhece pesquisas acadêmicas de destaque na área de Comunicação. O reconhecimento é histórico, pois é a primeira vez que uma pesquisadora indígena recebe este prêmio.
A tese de Andrielle Mendes, intitulada Comunicadoras Indígenas e a Descolonização das Imagens, foi selecionada entre outras enviadas por todos os Programas de Pós-graduação que têm doutorado em Comunicação no Brasil como a melhor tese na área defendida em 2022. A investigação foi orientada pelo professor Juciano de Sousa Lacerda, vice-coordenador do PPgEM.
A pesquisa buscou mapear quais estratégias midiático-comunicacionais as comunicadoras indígenas brasileiras têm adotado para propagar suas ideias e como essas narrativas ajudam a enfrentar estereótipos e imagens racistas. Além disso, traz contribuições inovadoras para o campo da Comunicação ao propor a metodologia da Catografia, inspirada na prática de catadores e coletores oriundos de comunidades originárias e tradicionais no país.
Andrielle explica: “trata-se de um trabalho coletivo que contou com a colaboração de muitas pessoas. Cito, em especial, as comunicadoras indígenas Graça Graúna, Aline Rochedo Pachamama e Márcia Kambeba, que eu entrevistei para elaborar a metodologia e a teoria da comunicação que proponho. Busco, por meio da Catografia, responder como povos que foram destituídos de humanidade e transformados em mercadoria de olhares durante a escravização, em especial a população negra e os povos indígenas, politizam o olhar para enfrentar as imagens de controle utilizadas para determinar o lugar dos sujeitos racializados na sociedade”.
A pesquisa de Andrielle Mendes não apenas contribui para o avanço do conhecimento acadêmico, mas também revoluciona o modo como a Comunicação é estudada ao propor um olhar que leva em consideração saberes e práticas de povos originários brasileiros, como o povo Potiguara. Suas descobertas podem ser aplicadas em outras investigações, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de comunicação que levem em conta a diversidade social do Brasil.
Ainda de acordo com a pesquisadora, obter o prêmio traz um pouco mais de visibilidade para o movimento indígena do Nordeste e do Rio Grande do Norte, único estado brasileiro sem terra indígena demarcada, em um momento em que as comunidades indígenas se sentem ameaçadas pelo esvaziamento do Ministério dos Povos Indígenas e avanço do projeto de lei que limita a demarcação de terras indígenas. “E serve também como um lembrete de que estamos aqui e utilizaremos todos os meios possíveis para mostrar que nós, indígenas, também produzimos conhecimento de qualidade e contribuímos com o futuro desse país”, afirma Andrielle.
Desde a primeira edição do prêmio, em 2011, esta é a segunda vez que uma pesquisa desenvolvida no Nordeste é vencedora. A cerimônia de premiação acontecerá no Encontro Anual da Compós 2023, em São Paulo, no dia 4 de julho.
Autor(a): Redação
Fonte: Agecom/UFRN