28 JUN 2022
Levantamento feito pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) indica que, considerando a renda das famílias, 47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano passado na pobreza, o que equivale a 22,3% do total da população brasileira, o maior percentual em dez anos.
Presidente do IMDS, o economista Paulo Tafner diz que o "Brasil vinha numa trajetória histórica de redução da pobreza, mas no meio do caminho, apareceu uma pedra, a pandemia, e ainda estamos vendo os seus efeitos".
Comparando os dados históricos, o nível de pobreza de 2021 é comparável ao registrado em 2010, mas é praticamente a metade do indicador nos anos de 1990, quando a pobreza chegou a 40% da população.
Pois bem
Cerca de 11 milhões entraram nas linha da pobreza em todo o país em 2021. O Nordeste continua a região que mais sofre o índice. São novos 5,5 milhões na pobreza no ano passado, elevando o número de pobres na região para 22,8 milhões, quase 40% da população nesta parte do país.
A maioria alta do país foi registrada em Sergipe, com avançou de 12,5%, quase o triplo da média nacional, que foi de 5%.
O Rio Grande do Norte também está entre os estados que registraram maior aumento da pobreza. Em 2020 teve queda e chegou a 24%, mas no ano passado saltou para 34,5%. O maior em 10 anos.
Recursos
Segundo o IMDS, a concessão de benefício do governo federal de R$ 600 em 2020 teve efeito de reduzir a pobreza. No ano passado, porém, o auxílio foi suspenso e, depois, teve o valor reduzido, além de ter corte no número de beneficiários. Como a covid não havia cedido, e a economia tão pouco reagido, teve repique na pobreza.
A faixa etária de zero a 17 anos está entre as mais sacrificadas. A pobreza infantil comprometia o futuro de 19 milhões de crianças e adolescentes ao final de 2021, 35,6% do total desse segmento da população.
A parcela da população que mais sofreu é negra - 73% do total - e se concentrava em regiões e estados mais pobres, o que ajudou a ampliar as desigualdades nacionais.
Isolamento social
De 2016 a 2020, a parcela de pobres oscilou entre 15% e 16% do total da população. Em 2020, quando os maiores municípios viveram o lockdown, a taxa ficou em 15,5%. No ano passado, subiu para quase 20%, com 3,8 milhões de habitantes das áreas urbanas descendo para a pobreza. A história da economia a gente vê depois.
De acordo com o economista Sergio Guimarães Ferreira, diretor do IMDS, a "pesquisa pode ter captado a demora na retomada do setor de serviços, muito importante para a economia dos centros urbanos".
Informa que o Instituto trabalha com o cenário de redução da pobreza em 2022, com a retomada do setor de serviços e o pagamento do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família.
Paulo Tafner explica:
- Não há evidências até aqui de que haja uma reversão estrutural na trajetória de queda da pobreza no Brasil, então, acreditamos que a robusta rede de assistência social do país, criada ao longo das últimas décadas, associada à retomada da economia e do emprego, vai contribuir para melhorar os indicadores a partir deste ano.
Critérios
O levantamento do IMDS contabiliza a pobreza tem como base a renda per capita familiar (por pessoa) apurada a partir das séries da PNADC do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na linha histórica da pobreza estimando dados da antiga PNAD (1992-2015) com a atual PNADC, ao longo prazo, o nível de pobreza de 2021 é comparável ao registrado em 2010, mas é praticamente a metade do indicador nos anos de 1990, quando a pobreza chegou a 40% da população.
A linha de corte para pobreza é a mesma adotada pelo Banco Mundial, viver com renda diária no valor de US$ 1,9, cerca de R$ 10, ou menos que isso.
Autor(a): Eliana Lima