08 MAI 2024
O Intercept informa sobre o relatório “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, encomendado em 2014 pela gestão de Dilma Rousseff (PT), realizado por vários órgãos de pesquisa, ao custo de R$ 3,5 milhões.
Os alertas são assustadores. De “elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, colapso de hidrelétricas, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e o aumento das chuvas no Sul”, resume o site.
Debrucei-me sobre o documento de 62 páginas do estudo que analisou impactos nos setores de cenários climáticos, recursos hídricos, agricultura, energia, infraestrutura urbana e costeira, transportes.
Ou seja, a tragédia que derrama sobre o Rio Grande do Sul, as queimadas na Amazônia, as vulnerabilidades em locais como Rio de Janeiro, Santos (SP), Nordeste etc. são detalhadamente especificados e medidas urgentes de projetos efetivos sugeridos.
O documento passou a dormir na escuridão de arquivo. As tragédias desde então continuam sucessivas, e cada vez mais mortais e destruidoras.
O estudo começa já com o alerta:
- O impacto das mudanças climáticas sobre as vazões indica uma tendência de aumento na região Sul do país, ao passo que nas regiões Norte e Nordeste verifica-se uma redução nessa variável.
- Especificamente, há possibilidades de aumento de frequência dos eventos de cheia e inundações na região Sul e de eventos de seca nas regiões Norte-Nordeste. A redução da disponibilidade hídrica nas regiões Norte e Nordeste deve evidenciar o acirramento de conflitos entre usos múltiplos, a desaceleração da economia devido à redução da disponibilidade hídrica para a agricultura e indústria, bem como o desabastecimento de cidades.
E sugere:
- Essas diretrizes conduzem à definição de um conjunto integrado de medidas de adaptação, a saber:
• Desenvolvimento e implantação de sistema de alerta precoce;
• Adaptação da drenagem urbana com vista a evitar problemas relativos a inundações;
• Ajuste da matriz energética frente à possibilidade de redução hídrica nas regiões Norte e Nordeste;
• Elaboração e implantação de programas de conservação energética;
• Aumento do aproveitamento e investimento em hidroeletricidade;
• Aumento da capacidade de armazenamento de água por meio do transporte da água no tempo e espaço por meio da transposição de bacias;
• Elaboração de planos de contingência específicos para eventos de cheias, os quais deverão estar associados a um planejamento de longo prazo, devendo ser frequentemente atualizados para que sejam orientadores das ações durante a ocorrência desse o extremo climático;
• Elaboração de planos de gestão de secas, com foco nas bacias hidrográficas, os quais devem passar por processos de atualização, a fim de que sejam instrumentos eficientes e aderentes à realidade;
. Elaboração de planos de gestão de secas para cidades, os quais devem ser atualizados, a fim de que as ações
propostas possam ser revisitadas e adequadas para cada situação e/ou estágio de seca;
• Identificação de novos mananciais, para que possam ser utilizados em situação de escassez hídrica;
‹ Promoção de intercâmbio institucional entre órgãos que lidam com a administração dos recursos hídricos,
como mecanismo de atualização do conhecimento sobre mudança e variabilidade climática;
‹ Realização de avaliações dos processos físicos nos reservatórios do sistema, como forma de promover o
aprimoramento do conhecimento da natureza para prever mudanças;
• Aprimoramento dos modelos de previsão climática, com o intuito de aperfeiçoar seu acoplamento aos modelos hidrológicos, possibilitando a avaliação dos impactos na agricultura, economia, recursos hídricos e no setor elétrico;
• Promoção da gestão de riscos, através da construção de cenários futuros para o planejamento de longo prazo;
• Implantação de programa de difusão tecnológica para alcance do uso racional da água;
Mais:
- Para a gestão de enchentes, inundações e alagamentos em centros urbanos são propostos sistemas alternativos, conhecidos como técnicas compensatórias que objetivam retratar e simular cenários da bacia primitiva, ou seja, a bacia sem a ocupação, compensando os efeitos da urbanização.
- O plano diretor das cidades deve apresentar um zoneamento que contemple áreas permeáveis, preferencialmente em cada lote.
- Áreas de várzeas e leitos maiores dos rios devem ser preservados. Para garantir a não ocupação dessas áreas, deve-se promover a integração das mesmas à dinâmica urbana, através da implantação de parques e/ou áreas de lazer. A fiscalização deve ser efetiva para que construções irregulares não venham a comprometer o sistema como um todo.
Atenta que “as técnicas compensatórias do tipo estruturais passam a ter um importante papel no controle de escoamento da água da chuva”.
E:
- Finalmente, recomenda-se elaboração de um plano de contingências visando descrever as medidas a serem tomadas pelos municípios com a finalidade de obter uma gestão mais eficiente, deixando mais integradas as ações necessárias para o controle de eventos extremos até que as condições normais sejam restabelecidas.
Leia aqui a íntegra do estudo.
Autor(a): BZN