11 SET 2024
A perda de um ente querido costuma ser uma experiência dolorosa e desafiadora. Quando essa perda ocorre por suicídio, o impacto pode ser ainda mais devastador, cercado por estigmas e incompreensões. Aqueles que enfrentam essa situação podem vivenciar uma infinidade de emoções profundas, como tristeza, choque, raiva e culpa, além de muitos questionamentos.
Alexsandra Sousa, psicóloga especialista em luto do Cemitério, Crematório e Funerária Morada da Paz, afirma que essa reação à perda é universal e esperada, mas também subjetiva. "O luto é um processo individual que pode impactar o familiar em suas dimensões físicas, emocionais, comportamentais, espirituais, cognitivas e sociais. É importante não patologizar o luto, ou seja, transformar esse processo em uma doença. Embora seja um processo doloroso, o luto é natural e precisa ser vivido", orienta.
Vivenciar o luto pelo suicídio de um ente querido pode ser especialmente desafiador devido ao estigma social e à falta de compreensão sobre o tema. A ausência de respostas sobre questionamentos como ‘Por que ela desistiu de viver?’ ou ‘Eu poderia ter feito algo para impedir?’ podem intensificar o sofrimento dos enlutados.
"Frequentemente esses enlutados têm mais perguntas do que respostas. O choque pela situação pode provocar sentimentos de falta de acolhimento, estranheza, autoacusação, raiva, busca por lembranças, vergonha, isolamento, rejeição, falta de sentido e a necessidade de explicações, o que costuma caracterizar de maneira particular essa vivência", explica Alexsandra.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), promove a campanha Setembro Amarelo para aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio e o valor da vida, um tema ainda envolto em tabus e estigmas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil suicídios são registrados anualmente em todo o mundo. No Brasil, esse número é de cerca de 14 mil por ano, o que equivale a aproximadamente 38 suicídios diários. A OMS também aponta que, para cada suicídio, pelo menos cinco pessoas são profundamente afetadas. Contudo, essa estimativa pode ser subestimada. Uma pesquisa da National Action Alliance for Suicide Prevention sugere que aproximadamente 115 pessoas são direta ou indiretamente impactadas pela perda de um ente querido dessa forma.
Acolhimento contínuo
O luto por suicídio envolve fatores que podem aumentar o risco de um processo traumático e prolongado. Além do tabu que envolve o tema, há preconceito e julgamentos que dificultam o apoio social. “No luto por suicídio, o suporte social pode ser comprometido. Em vez de receber uma pergunta como 'O que posso fazer por você?', os enlutados podem enfrentar julgamentos, como 'Como você deixou isso acontecer?'. É fundamental oferecer apoio empático, livre de julgamentos," destaca Alexsandra.
Estudos na área de Psicologia reconhecem a importância que o apoio terapêutico e psicológico pode oferecer às pessoas enlutadas. Terapias individuais e grupos de apoio específicos para luto por suicídio podem oferecer um espaço seguro para a expressão e o processamento de emoções. O suporte de amigos e familiares, que oferecem uma escuta empática e sem julgamentos, também desempenha um papel crucial na recuperação.
A conscientização sobre o suicídio e a busca por ajuda especializada são passos essenciais para preveni-lo. Iniciativas como o Setembro Amarelo buscam quebrar o tabu em torno do tema e abrir espaço para conversas necessárias. Se você ou alguém que conhece precisa de apoio, procure o CVV (Centro de Valorização da Vida) pelo telefone 188 ou pelo site cvv.org.br.
Morada do Cuidado
Com a proposta de oferecer um olhar acolhedor que possa tornar o caminho do luto um pouco mais leve, o Morada da Paz disponibiliza uma série de serviços de apoio ao luto durante todo o ano.
Um dos recursos oferecidos é o Morada do Cuidado, uma plataforma digital gratuita com conteúdos multimídia, programas e recursos que auxiliam e orientam com informações seguras sobre o tema. Além da plataforma digital, em Natal, o Espaço Terapêutico Morada do Cuidado, localizado no bairro do Tirol, na Av. Rodrigues Alves, 1293, oferece atendimento presencial especializado por profissionais de psicologia.
Outro projeto é o grupo de escuta Chá da Saudade. Com encontros mensais, clientes e seus familiares enlutados podem dialogar sobre o luto, suas dores e experiências, acompanhados por uma psicóloga.
Autor(a): BZN