Política

Carta de professores da UFRN sobre medicamentos no tratamento da covid-19

08 JUL 2020

Professores do Departamento de Infectologia da UFRN emitiu hoje (8) carta sobre uso de medicamentos preventivos ou terapêuticos na covid-19.

Dos 12 especialistas, dois não aprovaram a recomendação.

Eis a íntegra:

Aos médicos e à comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A Covid-19 é uma enfermidade pandêmica que registra números elevados de casos, inclusive no Estado do Rio Grande do Norte. O agente causal é o SARS-CoV-2, um vírus contagioso por via respiratória e que pode produzir doença grave em cerca de 20% dos que se infectam. Entretanto, aproximadamente 80% dos infectados desenvolverão uma doença leve autolimitada ou uma infecção assintomática. Nestes casos, o uso de medicação específica é absolutamente dispensável, recomendando- se apenas o uso de medicações sintomáticas.

Em virtude do uso de fármacos para profilaxia pré ou pós-exposição ou com a finalidade de tratar de forma específica/adjuvante a COVID-19, o Departamento de Infectologia da UFRN (DINF) realizou uma reunião plenária, onde compareceram todos os professores, com o objetivo de apresentar dados da literatura que justificassem o uso de tais medicações.

Neste sentido, apresentamos abaixo um resumo do que foi discutido e definido pelos professores do DINF.

O DINF esclarece que, caso haja nova evidência científica publicada, estas recomendações serão atualizadas.

1 - Uso de medicação profilática pré-exposição.

Até o momento não há dados na literatura que justifiquem o uso de qualquer fármaco para evitar a infecção pelo SARS-CoV-2 ou ainda, que possa impactar na gravidade da doença antes que ela se estabeleça, como por exemplo a ivermectina. O tema profilaxia pré-exposição não tem sido contemplado por ensaios clínicos.

2 – Uso de medicação para profilaxia pós-exposição.

Este ponto tem sido contemplado por ensaios clínicos randomizados e os resultados até agora apontam para ineficácia desta medida, como por exemplo, o uso da hidroxicloroquina para este objetivo. Aguardamos por publicações científicas que justifiquem a intervenção preventiva medicamentosa.

3 – Uso de medicações que controlem ou reduzam a replicação do SARS-CoV-2 em humanos.

Até o momento o uso da cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina ou lopinavir/ritonavir não se mostraram eficazes no controle da replicação viral em ensaios clínicos em humanos. Não há evidência de impacto no curso clínico e prognóstico da doença.

No tocante à ivermectina, não foi identificado nenhum ensaio clínico em humanos relacionado ao seu uso no tratamento da COVID-19.

O Remdesivir não está disponível no Brasil até a presente data. Este medicamento parece ter uma ação no controle da replicação viral, todavia seu uso estaria recomendado somente para casos hospitalizados e graves.

4 – Uso de terapêuticas que interfiram no curso clínico da enfermidade por agirem sobre o sistema imune, incluindo imunoterapia.

Dexametasona: evidência preliminar de um estudo ainda não publicado sugere que baixa dose de dexametasona (6 mg/dia) tenha benefício no manejo de pacientes graves, com necessidade de oxigênio suplementar. Até o momento, o uso de corticoide nos casos leves não está indicado, devendo-se enfatizar que o seu uso em fases iniciais da doença tem potencial de dano.

Quanto ao uso de inibidores de interleucina-1 e inibidores de IL-6 (sarilumab, siltuximab e tocilizumab), ainda não há dados suficientes que respaldem sua eficácia na COVID-19, no entanto, admitimos seu uso compassivo em pacientes graves e/ou contexto de ensaios clínicos randomizados e aprovados pelas agências regulatórias.

A imunoglobulina anti-SARS-CoV-2 ou soro de convalescente não devem ser empregados por falta de dados da literatura que justifiquem o seu uso.

5 – Uso de terapia antitrombótica.

Este tema não foi contemplado na reunião.

Após ampla discussão dos temas, os professores do DINF concluíram que estas recomendações seriam as mais atualizadas, com base nas evidências científicas disponíveis, a serem seguidas pelos médicos e comunidade acadêmica.

Professores que discutiram e aprovaram esta recomendação:

Prof. Kleber Giovanni Luz – PhD Infectologia – Chefe do departamento.

Prof.a Mônica Baumgardt Bay – Mestre em Ciências da Saúde – Vice Chefe do departamento.

Prof. Andre Luciano de Araújo Prudente – Especialista em Infectologia.

Prof.a Eveline Pipolo Milan – PhD em Infectologia.

Prof. Hareton Teixeira Vechi – Especialista em Infectologia.

Prof. Henio Godeiro Lacerda – PhD em Ciências da Saúde.

Prof. Igor Thiago Borges de Queiroz e Silva – PhD em Infectologia. 

Prof.a Manoella do Monte Alves – Mestre em Ciências da Saúde. 

Prof.a Marise Reis de Freitas – PhD em Infectologia.

Prof.a Mirella Alves da Cunha – PhD em Infectologia.

Professores que não aprovaram esta recomendação:

Prof.a Eliana Lúcia Tomaz do Nascimento – PhD em Ciências da Saúde.

Prof.a Denise Vieira de Oliveira – Especialista em Infectologia.

Referências bibliográficas:

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 3. Lee S H, Son H and Peck KR. Can post-exposure prophylaxis for COVID-19 be considered

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 5. Al-Kofahi M, et al. Finding the Dose for Hydroxychloroquine Prophylaxis for COVID-19: The

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 8. RECOVERY Collaborative Group. Effect of Dexamethasone in Hospitalized Patients with

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 https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.22.20137273v1.full.pdf (Acesso em 07 Jul

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Autor(a): Eliana Lima



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