13 SET 2021
Popularmente associada ao uso em procedimentos estéticos, a toxina botulínica, comumente conhecida por botox, tem funções que vão além da melhora da aparência física. Pela primeira vez, pacientes que utilizam os serviços de reabilitação motora no Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba, receberam aplicações da toxina para o tratamento da espasticidade, que é um distúrbio comum nas lesões congênitas ou provocadas no sistema nervoso central, podendo gerar incapacidade funcional, deformidades e dor. A toxina botulínica atua na diminuição da espasticidade e inibe, por um intervalo de tempo, o mecanismo de aumento da contração reflexa.
Batizado de Serviço Multiprofissional Especializado no Tratamento da Espasticidade (Semente), o ambulatório é formado por uma equipe multiprofissional composta pela fisioterapeuta Camila Simão; pela farmacêutica bioquímica Danielle Alecrim; pela médica ortopedista infantil Kalyana Fernandes e pelo neurologista ngelo Raimundo da Silva Neto. Eles atendem pacientes do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), com indicação para tratamento da espasticidade, instalado no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita). No primeiro dia de funcionamento do ambulatório, na semana passada, três pacientes receberam a toxina. A maior parte das aplicações realizadas até agora ocorreu nos membros inferiores, nos quais se concentram a maioria das contrações musculares involuntárias ocorridas nas crianças atendidas.
De acordo com Camila Simão, o tratamento iniciado com toxina botulínica é pioneiro por englobar uma equipe multiprofissional que discute, de acordo com as demandas e necessidades trazidas pela família, a indicação da aplicação e o processo de reabilitação. Anterior à aplicação da medicação em si, todos os pacientes com indicação para tratamento são avaliados por esses profissionais que, em consenso, aprovam ou não o uso da substância. O início do serviço no Anita foi viabilizado a partir de um acordo firmado entre o Instituto Santos Dumont e a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP/RN). A partir desse acordo, o medicamento, nominal aos pacientes, é encaminhado para armazenamento no Anita.
“O Anita acondiciona a toxina botulínica em um ambiente adequado, com temperatura controlada e com o mínimo de risco de perda das unidades. Tudo com o objetivo de otimizar os efeitos da aplicação”, frisa Camila Simão. O encaminhamento dos itens ao Anita, porém, só ocorre após a dispensação realizada pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat) em nome de cada um dos pacientes. Além do pioneirismo na questão da equipe ambulatorial multidisciplinar, o Anita utiliza óculos de realidade virtual em algumas crianças para que elas se distraiam enquanto o medicamento é aplicado.
Conforme a preceptora médica em Ortopedia Infantil, Kalyana Fernandes, os aspectos físicos dos pacientes são estudados para definição antecipada para definição da melhor forma e dosagem ideal do botox a ser aplicado. “Existe o estudo clínico antecipadamente para definir a dosagem a ser aplicada. A dosagem depende do peso e da avaliação clínica neurológica. Toxina botulínica não é indicada para todos os casos. Em alguns casos, tratamento clínico e neurocirurgia são alternativas mais adequadas. Esse tratamento (com o botox) traz um grande benefício para o paciente”, explica Kalyana Fernandes. Ela destaca, ainda, que a reação ao produto não ocorre com frequência e que se assemelha à uma reação vacinal. É recomendado uso de medicações como paracetamol ou dipirona para alívio da sintomatologia.
Parceria
De acordo com Marilene Soares, coordenadora da Rede de Pessoa com Deficiência da Sesap/RN, o uso da toxina botulínica tem como efeito o relaxamento da contratura muscular e o seu uso promove ao paciente ganho de movimento e alívio de dor.
“A aplicação da substância ajuda no tratamento de pacientes com comprometimentos neurológicos como paralisia cerebral, trauma medular, sequelas de acidente vascular cerebral (AVC), entre outros. A toxina botulínica tem alto custo e é mantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, é necessário que a Sesap faça essa parceria com instituições habilitadas pelo SUS que disponibilizam profissionais capacitados para ofertar um programa completo de reabilitação para o paciente, pois não é apenas a aplicação da substância que vai resolver o problema. O paciente precisa ter um programa de atividades para que haja o efeito da toxina. Ela estabelece um recurso a mais que proporciona melhoria na funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes, pois faz parte de um processo de reabilitação para facilitar as aquisições motoras do indivíduo”, ressalta Marilene Soares.
Ela destaca, ainda, que o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), além de preencher todos esses requisitos, faz parte da Rede da Pessoa com Deficiência no Rio Grande do Norte e é referência estadual em vários trabalhos que desenvolve enquanto Centro Especializado em Reabilitação (CER IV). “A Sesap acredita nessa instituição e a parceria trará ganhos substanciais à saúde das pessoas que serão beneficiadas com esse projeto”, sublinha Marilene Soares.
Autor(a): Aura Mazda