Política

Joselito Müller vai no âmago da agressão à língua portuguesa

30 MAI 2022

Sou fã de carteirinha de Joselito Müller, heterônimo de um advogado que mora em Natal, que eu conheço e acho genial. Sim, genial. Tem gente agora que até discorda quando consideramos a capacidade de alguém de ser genial. Votz. Vai-te.


Pois bem 


O personagem fictício escreve livros com inteligência e ironia da cena urbana, “satirizando figuras públicas em situações cômicas”, como bem diz a Editora Record, que edita os livros do advogado, como o estrondoso sucesso “O Lula tá preso, babaca” e o “Tarde demais para pedir bom senso”, “A nova era segundo Joselito Müller”


Pesquei do perfil dele no Instagram esse texto cirúrgico que escreveu sobre a proibição e o policiamento de verbetes da nossa língua portuguesa:


- Quem me avista perambulando tão ensimesmado pelas ruas do Brasil, pode confundir meu habitual silêncio com tristeza ou paunocuzismo.


Não é nada disso, no entanto.

Tenho ficado muito calado ultimamente, porque não sei mais falar a língua portuguesa e fico com medo de dizer - inocentemente - algo que me torne um delinquente, por usar palavras proibidas.


Desconheço quem incluiu no código penal o delito de usar certas palavras, mas o fato é que todo mundo virou juiz inquisidor, capazes de condenar - sem direito de defesa - quem não usar um pronome do modo que ele considera correto.


Nem minha mãe, que é professora de gramática, era tão rigorosa quando tentava me ensinar os pronomes do caso oblíquo.


Mas essa galera, que muitas vezes confunde pronome com substantivo (e que também não sabe que, em português, há vários pronomes neutros) é implacável.

Inventaram agora de proibir certas palavras, com direito a jornalista censurando colega em rede nacional.


Óbvio que há expressões racistas que devem ser evitadas. Mas relacionar coisas que nada têm a ver com racismo, torna qualquer um réu em potencial.


A falta de noção e a covardia leva, por exemplo, a situações como a recentemente divulgada, na qual uma moça dizia que queria fazer “um esclarecimento, ou um escurecimento”.


Lembrei-me da polêmica sobre a palavra “denegrir”, de origem latina, e nada tem a ver com o racismo contra negro, mas sim com a ausência de luz.


Se algo não está claro, não significa dizer que está afrodescendente, penso eu. Está, na verdade, não iluminado, de modo que, esclarecer seria colocar luz sobre o objeto, possibilitando enxerga-ló ou compreendê-lo.


Minhas considerações sobre o tema fazem sentido? Obviamente que não.


Por isso tenho evitado fazer uso de palavras em praça pública.


Tenho me tornado um frouxo e não quero ser julgado pelo tribunal de exceção que reside em cada sujeito que se arvora virtuosíssimo hoje em dia.


Então não pensem que estou triste ou sou um paunocu ao ver-me calado por aí.


Sou só um recém analfabeto, que ainda tenho que reaprender como se usa a língua portuguesa.


Os livros de Müller




Autor(a): Eliana Lima



últimas notícias