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Levantamento aponta que ao menos 11,4 milhões de brasileiros já usaram cocaína ou crack

01 JUL 2025

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Levantamento divulgado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estimou que cerca de 11,4 milhões de brasileiros, considerando os maiores de 14 anos, já usaram cocaína ou crack alguma vez na vida, o que representa 6,60% da população. Ao menos 2,20% dos entrevistados relataram ter feito uso recente das substâncias  nos últimos 12 meses, o que equivale a cerca de 3,8 milhões de pessoas.

O resultado é do terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), realizado com financiamento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A coleta dos dados ocorreu em 2023, com 16.608 participantes de 300 municípios do país e não inclui pessoas em situação de rua.

Na comparação com o levantamento anterior (Lenad II), realizado em 2012, os pesquisadores indicam que houve aumento estatisticamente significativo na prevalência de pessoas que já usaram cocaína ou crack ao longo da vida. Isso porque, na ocasião, o percentual era de 4,43%. Com base em 2012, ao menos 2% das pessoas relataram o uso das substâncias ao longo do ano anterior, o que indicaria estabilidade.

“A estabilidade do consumo recente, combinada ao aumento observado nas estimativas de uso ao longo da vida, sugere a possibilidade de um crescimento histórico na experimentação da substância, sem que isso tenha se traduzido, necessariamente, em um aumento proporcional nos padrões de uso continuado”, diz trecho do estudo.

As prevalências de uso ao longo da vida e no último ano são mais elevadas entre pessoas do sexo masculino e no grupo de 25 a 49 anos. Em relação à cor, amarela e indígena tiveram maiores proporções. Do ponto de vista conjugal, os maiores índices são observados entre pessoas divorciadas ou separadas.

Considerando escolaridade e renda, os índices mais altos de consumo estão entre pessoas com menor escolaridade e entre aquelas com renda mensal domiciliar de até dois salários mínimos. A parcela que declara ter usado alguma vez na vida alcançou 12,77% entre a população sem nenhum estudo, 8% entre aqueles que não chegaram até o ensino médio, e uso recente de 1,88% e 3%, respectivamente.

“O uso atual de cocaína e crack no Brasil não parece ter piorado nos últimos 10 anos. A discrepância entre o aumento do consumo na vida e estabilização do consumo recente indica que variações no contingente de usuários podem ter ocorrido durante o longo período entre as duas edições do estudo sem que tenham sido detectadas”, divulgou, em nota, a Unifesp.

Os pesquisadores alertam, no entanto, que é preciso cuidado para análise de tendências. Um dos motivos é que o intervalo de 11 anos entre os levantamentos é suficientemente longo para que flutuações importantes - elevações ou quedas  - tenham ocorrido sem serem captadas pelas medições disponíveis.

Segundo nota da instituição, “qualquer comparação entre 2012 e 2023 deve ser interpretada como a descrição de diferenças pontuais entre dois momentos distintos, sem que seja possível inferir com segurança se tais variações correspondem a um crescimento, declínio ou estabilização contínuos”. A Unifesp alertou, no entanto, que “o uso permanece elevado entre populações vulneráveis, com perfis marcados por desigualdade social, exclusão e baixa escolaridade”.

Além disso, pela primeira vez, o estudo incorporou um módulo sobre percepção comunitária do tráfico de drogas. “Cerca de metade da população brasileira [43,8%] afirma perceber o tráfico como frequente (soma das respostas “acontece muito” e “acontece”) em seu bairro, com destaque para as regiões Sudeste [51,6%] e Norte [47,5%], e para os grandes centros urbanos”, informou a Unifesp.

Autor(a): BZN
Fonte: Agência Brasil



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