Justiça

Mauro Cid detalha atuação de Bolsonaro na minuta de golpe e revela plano com apoio militar

09 JUN 2025

Foto: Ton Molina/STF

Durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro leu e modificou uma minuta de decreto que previa Estado de Defesa, Estado de Sítio, novas eleições e a prisão de diversas autoridades. Segundo Cid, após as alterações feitas por Bolsonaro, o único nome mantido como alvo de prisão foi o do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF.

A oitiva de Mauro Cid faz parte da fase final da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado e os atos de 8 de janeiro de 2023. O depoimento foi conduzido por Alexandre de Moraes e integra o processo contra integrantes do chamado "núcleo 1" da investigação.

Colaborador da Justiça por meio de um acordo de delação premiada, Cid relatou que a versão original da minuta previa a prisão de ministros do Supremo, do presidente do Senado e outras autoridades. O documento também sugeria a criação de uma comissão para organizar novas eleições. Bolsonaro teria optado por “enxugar” o texto. O militar declarou ainda que seu celular era usado como um canal informal de comunicação, reunindo desabafos, pedidos e mensagens de apoiadores de Bolsonaro. “Meu celular era um local de desabafos, de pedidos, de questionamentos, de todo tipo”, contou ao relator.

Ele descreveu a movimentação nos arredores do Palácio da Alvorada como um reflexo do clima nos grupos bolsonaristas nas redes sociais. Segundo Cid, muitos dos interlocutores eram “bravateiros”, interessados apenas em demonstrar apoio simbólico aos acampamentos em frente a quartéis. Cid também afirmou que os acampamentos, inicialmente tolerados, passaram a contar com apoio mais explícito de setores das Forças Armadas, o que teria encorajado a permanência de militares nesses espaços. Em outro trecho do depoimento, relatou que uma reunião com o general Braga Netto foi marcada a pedido de dois coronéis que queriam discutir o cenário das manifestações e a possibilidade de apoio das Forças Armadas.

Sobre o período pós-eleição, Cid revelou que Bolsonaro trabalhava com duas possibilidades: provar uma suposta fraude nas urnas eletrônicas ou contar com a adesão das Forças Armadas para um golpe. Segundo ele, o ex-presidente acreditava que um escândalo eleitoral poderia gerar comoção popular suficiente para reverter o resultado.

Apesar das tentativas, nenhuma evidência concreta de fraude foi encontrada até o fim do mandato, afirmou Cid. Ele explicou que os dados utilizados vinham do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e eram processados por aliados com base em estatísticas, mas sem resultados conclusivos.

Autor(a): BZN



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