“E digo mais: não apenas convivência, mas também subserviência”.

A frase acima foi dita pelo ministro Marco Aurélio Mello, então em atividade no STF,  durante um evento em Brasília, ao responder meu questionamento sobre a relação do Judiciário com os políticos. O tempo mostrou que sua observação era profética. Hoje, essa subserviência se revela não apenas diante do poder político, mas também diante da opinião pública fabricada, das pressões do mercado e dos jogos de bastidor, como escancarou a nova crise institucional conhecida nas redes como a Vaza-Jato do STF.

Desta vez, os vazamentos não vieram de hackers ou dossiês clandestinos. Vieram de onde já se esperava: do próprio celular da jornalista Daniela Lima, que, sem constrangimento e sorridente, compartilhou publicamente trechos de sua conversa com um ministro da Suprema Corte, informando votos antecipadamente, comentários irônicos sobre prisões, desaforos nada republicanos. Tudo via WhatsApp.

Entre as revelações, ficamos sabendo que Alexandre de Moraes estaria “emparedado” e por isso atenuando decisões, segundo um colega de Corte. Que ministros se ressentem da pressão e zombam dos chamados “isentos”, deboche que revela incômodo com a imparcialidade alheia. Que o verdadeiro poder de pressão vem dos “isentos da mídia, do mercado e do Congresso”. Que esses mesmos setores, por omissão ou conveniência, são corresponsáveis pela escalada autoritária que hoje enfrentamos.

Nada, entretanto, é mais grave do que ver julgamentos sendo antecipados a jornalistas. A toga vira peça de bastidor. A imparcialidade cede à vaidade. O que deveria ser julgamento vira espetáculo com final ensaiado, e, pior, revelado em tempo real.

Os brasileiros, que pagam a conta e o pato, de tudo, têm o direito de saber: quem são os “isentos” que emparedam ministros e silenciam instituições? E até quando o Supremo será um tribunal de exceção guiado por pressões invisíveis?

Pois bem!

O que se viu não foi transparência. Foi colapso da liturgia constitucional em rede nacional.

Confira o vídeo no nosso perfil do Instagram: @bznoticias.

Autor(a): Eliana Lima