Política

O dia na prisão que Zózimo socializou queijos franceses com comunistas, que se mostraram conhecedores das iguarias

29 OUT 2024

Foto: Estátua de Zózimo no Rio

Em 1969, Zózimo Barrozo do Amaral, badalado colunista social do Jornal do Brasil, no então glamoroso Rio de Janeiro, foi preso por publicar nota sobre um general do alto escalão do governo militar. Tornou-se o primeiro colunista social preso na história do Brasil. 


Na bibliografia de Zózimo, que tem uma das suas célebres frases, “Enquanto Houver Champanhe, Há Esperança”, o autor Joaquim Ferreira dos Santos conta sobre o segundo dia de prisão, quando o elegante colunista socializou queijos franceses com os demais. Mostra como os comunistas ecoam pobreza, mas são mesmo é apreciadores de champanhe e caviar.


Pois bem


Essa historinha foi contada na coluna Porandubas, de Gaudêncio Torquato, no portal Migalhas, em outubro de 2018, enviada para ele pelo amigo-jornalista Neimar Fernandes.


Sob o título “Só queijo francês”, contou:


"Na longínqua quarta-feira santa do ano de 1969, o jornalista carioca Zózimo Barrozo do Amaral foi preso e levado para o Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca.


No segundo dia na prisão, sua esposa, Márcia Barrozo do Amaral, conseguiu visitá-lo, levando uma cesta da Lidador, fina loja de importados. A cestinha estava repleta de queijos: camembert, brie, roquefort e outras estrelas da fromagerie francesa.


Zózimo, morto de vergonha com a ostentação em pleno território dos que brigavam pela ascensão do proletariado faminto, colocou as iguarias no mesão socialista. Depois, cochichando, deu um toque em Márcia: "da próxima vez traz catupiry."


Dois dias depois daquele banquete lá estava novamente Márcia com outra cestinha de delicadezas. Dessa vez elas falavam o melhor carioquês. Nada de importados. Tinha catupiry, queijo minas e mortadela. Tudo gostoso, e agora politicamente compatível com o cenário espartano do presídio. A turma comeu, agradeceu e foi dormir.


Bezze, "chefe" dos presos, um dos organizadores da célebre Passeata dos Cem Mil pela avenida Rio Branco e membro do Centro Acadêmico Cândido Oliveira da Faculdade de Direito da UFRJ, percebeu a mudança de sotaque no cardápio.


No dia seguinte, chamou Zózimo no canto: "olha aqui, meu prezado colunista, nós estamos presos, jogados neste fim de mundo, mas nem por isso perdemos a nossa dignidade, compreendeu?" Zózimo ficou paralisado. "O que houve? O que foi que eu fiz?"


Bezze explicou: "da primeira vez a sua mulher trouxe camembert, brie, um banquete delicioso. Ontem foi catupiry. Antes que a coisa chegue ao Polenguinho, eu quero te dizer o seguinte: só queijo francês! Do bom! Nós somos socialistas, mas gostamos é de queijo francês, morou?!"


Neimar, com ironia, arremata: Passados 49 anos desse episódio, nada mudou". A esquerda brasileira continua "caviar". E hipócrita.

Autor(a): BZN



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