Cultura

Pesquisadores da UFRN descobrem curiosidades sobre a ginga

02 FEV 2021

Único prato típico das capital dos magos-saborosos, a iguaria ginga com tapioca foi considerada, por decreto da governadora Fátima Bezerra, em 2019, Patromônio Imaterial do RN.

Muito se fala sobre a ginga, mas pouco se sabe sobre esse peixinho de sabor crocante quando frito. 

Pois bem. Pesquisadores do Centro de Biociências (CB) da UFRN jogaram suas lupas para saber mais sobre a ginga. O primeiro passo foi conversar com pescadores de diferentes localidades potiguares, como Natal, Baía Formosa e Macau, e nos municípios de Cabedelo (PB), Recife (PE) e a ilha de Fernando de Noronha.

O resultado foi detalhado no artigo "Tamanho importa: a etnoictiologia de uma espécie culturalmente importante no Nordeste do Brasil". Os pesquisadores indicam que a ginga é majoritariamente de filhotes ou juvenis de duas espécies de peixe, Opisthonema oglinum (50%) e Harengula sp. (20%), informa a Agecom, a Agência de Comunicação da UFRN. Passa por dois reconhecimentos: sardinha azul/bandeira e sardinha cascuda. 

Explica Thais Ferreira-Araújo, da Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da UFRN, primeira autora da pesquisa:

- Utilizamos o tamanho dos peixes para determinar se eram filhotes ou adultos. Vimos que a ginga tem um tamanho médio de 7 cm e que todos os peixes vendidos como ginga eram filhotes, ou seja, ainda não se reproduziam. Para a sardinha, observamos que em média tinham 11 cm, sendo a grande maioria adulta.

Continua, em entrevista para a Agecom:

- É preciso conhecer para conservar. Se não soubermos quais espécies são reconhecidas e pescadas como ginga, não é possível fazer sua avaliação pesqueira para entender como está a saúde dessa população.

Alerta que, apesar de não ser do grupo ameaçado de extinção, é necessário o monitoramento do peixe:

- Sempre é importante realizarmos avaliações pesqueiras para saber como vai a pesca daquele peixe, se é sustentável ou não, pois não queremos pescar em excesso ao ponto de ela deixar de existir. E, no caso da ginga, não é só o papel biológico e ecológico que se perde caso a mesma desapareça, toda essa cultura única associada a ela também se vai.

Também autora do artigo, a professora Priscila Lopes, do Departamento de Ecologia da UFRN, considera:

- A ginga tem uma importância cultural muito grande para o natalense e é estranho que sequer soubéssemos do que se tratava. Conhecer e valorizar uma espécie de relevância cultural pode inclusive favorecer a sua gestão, pois tendemos a cuidar melhor daquilo que faz parte de nossa história e identificação.

Detalha Thaís:

- Com base nos principais nomes populares mencionados pelos pescadores locais, que foram ginga e sardinha, compramos esses peixes em peixarias ou diretamente com pescadores e identificamos quais espécies eram vendidas como ginga e sardinha. Juntando e comparando as informações, conseguimos descobrir o que é ginga, onde é pescada e como é feita a distinção entre ela e os demais peixes.

Complementa Priscila Lopes:

- Pescadores fora de Natal sabem do nome, mas não conseguem dizer com certeza que espécies compõem o grupo. Já os do município, especialmente da Redinha, têm ciência que ginga não é uma espécie, e, sim, um conjunto de espécies pescadas de uma forma específica e em uma fase específica do desenvolvimento do peixe.

O artigo, publicado no periódico Ethnobiology and Conservation, tem assinatura também do professor Sergio Lima, do Departamento de Botânica e Zoologia da UFRN.

Autor(a): Eliana Lima



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