12 JUN 2025
Passados quase dez anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a cidade e seus atingidos ainda enfrentam um cenário de dor, espera e frustração. A tragédia ocorrida em 5 de novembro de 2015, considerada o maior desastre socioambiental da história do Brasil, matou 19 pessoas, destruiu comunidades inteiras, poluiu o Rio Doce ao longo de 600 km e impactou a vida de mais de 1 milhão de pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Até hoje, nenhuma pessoa foi presa pelos crimes ambientais e humanos causados pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, controlada pelas gigantes Vale e BHP Billiton. A maior parte dos processos segue arrastada na Justiça, e muitos atingidos seguem sem indenização justa ou moradia definitiva. A reconstrução de localidades como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo está longe de ser concluída. A Fundação Renova, criada para gerir as compensações e medidas de reparação, é alvo recorrente de críticas por lentidão, burocracia e falta de escuta às comunidades.
Nesta quarta-feira (12), o presidente Lula da Silva (PT) visitou Mariana ao lado da primeira-dama Janja e de ministros, sob a bandeira do lançamento da pedra fundamental do novo campus do IFMG e o anúncio de obras previstas no Novo PAC, em solenidade marcada por uma superestrutura montada, com palco elevado, superpainel luminoso com imagens e slogans do governo federal e um aparato típico dos grandes atos públicos de Lula, amplamente utilizados em vídeos ensaiados, registros fotográficos e material de propaganda nas redes sociais.
A visita, embora simbólica, contrastou com o que ainda permanece pendente. As imagens ensaiadas para consumo nas redes não conseguiram esconder o descompasso entre a estética do marketing político e a realidade de centenas de famílias que seguem desamparadas.
Enquanto a comitiva presidencial discursava sobre desenvolvimento e retomada, comunidades inteiras ainda aguardam pela retomada de suas vidas, e muitos atingidos sequer foram consultados ou convidados para o evento. E Ministério Público silencioso diante dos gastos elevados com o aparato de comunicação, luzes e estruturas promocionais investidos nos eventos oficiais, nem questionamentos sobre a eficácia concreta das promessas anunciadas.
Apesar da recente homologação, pelo Supremo Tribunal Federal, de um acordo de R$ 170 bilhões entre o governo federal, os estados atingidos e as mineradoras responsáveis, a implementação do que foi prometido segue incerta. O acordo inclui investimentos em reparação ambiental, moradias, indenizações e infraestrutura, mas ainda enfrenta resistência por parte de movimentos sociais e especialistas que consideram o pacto insuficiente ou mal distribuído.
Quase uma década após a tragédia, o que se vê em Mariana é um drama inacabado. Um cenário onde a dor dos atingidos convive com a impunidade, e onde as estruturas provisórias da política chegam antes das casas permanentes. Diante disso, fica o questionamento: quantas pedras fundamentais ainda serão lançadas antes que a justiça, de fato, seja feita?
Autor(a): BZN