22 NOV 2023
A população global deve chegar a 9,8 bilhões até 2050. Com isso, a demanda por alimentos deve aumentar em mais de 50%, e alimentos de origem animal em quase 70%, segundo dados do World Resources Institute. Nesse contexto, alternativas alimentares são pensadas no mundo todo a fim de resolver e suprir essa demanda, como as carnes veganas à base de plantas, e a mais recente, a carne celular.
Diferente da indústria convencional de carne, em que uma média de 70 bilhões de animais terrestres são criados e abatidos por ano no mundo, essa inovação na produção inicia a partir de uma única célula animal extraída por meio de biópsia, sem dor ou abate, que é multiplicada em um biorreator até chegar ao produto final, uma carne animal com propriedades idênticas à que já existe no mercado, em um processo semelhante ao da fabricação de cerveja, por exemplo
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), os Laboratórios de Zootecnia Celular (Zoocel/UFPR) e de Bem-estar Animal (Labea/UFPR) são responsáveis pelos estudos desses avanços a fim de melhorar a qualidade de vida dos animais. Carla Molento, professora do Departamento de Zootecnia e coordenadora desses dois projetos, fala sobre um dos diferenciais do laboratório. “Ele não tem o foco só de pesquisa, mas de ensino. Se a gente vai desenvolver uma nova cadeia de produção de alimentos, a gente precisa formar pessoas”, afirma.
A professora, junto a Patrícia Marin, advogada, especialista em Direito Animal e coordenadora dos Grupos e Núcleos Locais da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), foram convidadas para uma conversa a respeito dessas novas formas de alimentação no Bate-Pop AE: Ciência em Play, vodcast que discute ciência, pesquisa e cultura, de uma forma leve e descomplicada, produzido pela Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica da UFPR.
A advogada comenta que, como já existe todo um universo de carnes alternativas à base de vegetais, a carne celular não é necessariamente direcionada a um público vegano, mas para pessoas que comem carne convencional é uma alternativa melhor para os animais, meio ambiente e saúde das pessoas. “Ela abre uma oportunidade de escolha para quem ainda não conseguiu se desfazer daquele apego ao paladar”, afirma.
Patrícia fala também sobre a questão ética e a necessidade de repensar tradições. “Tudo acontece sempre para reforçar como se os animais fossem instrumentos pra gente usar, estão aqui ao nosso favor, e não é assim”, argumenta. Para ela, embora a carne e diversos outros produtos que resultam da exploração animal estejam presentes culturalmente na sociedade há séculos, é possível que isso seja reconsiderado.
Carne celular já é realidade em outros países
A carne celular ou cultivada é realidade em um restaurante de Singapura desde 2020, quando a startup Eat Just recebeu aprovação regulatória do país para vender cubos de frango cultivados. Países da Europa e Estados Unidos também já contam com iniciativas. Além disso, a JBS, multinacional brasileira e uma das líderes globais da indústria de alimentos, anunciou um investimento de US$ 100 milhões para se tornar uma das principais fabricantes de proteína cultivada do mundo.
“É a primeira vez na história que o interesse em lucro está do lado dos animais”, é o que afirma Carla. A professora comenta que, por ser uma inovação radical, há um tempo necessário para que os custos de produção se igualem ao que já existe no mercado, o que já vem ocorrendo. “O que faz cair o preço é investimento em pesquisa”, complementa.
Autor(a): BZN